Transplante de órgãos — Como a genética influencia?
Publicado em: 04/03/2019, 12:52
Falar sobre transplante de órgãos torna-se uma pauta cada dia mais necessária. A ação de doar uma parte do corpo para a outra é louvável e deve ser praticada quando houver necessidade e desimpedimentos. Para contextualizar, um transplante nada mais é do que um procedimento cirúrgico que transfere um tecido, fluido corporal ou órgão de uma pessoa saudável para uma pessoa que apresenta problema com aquela parte do corpo. No entanto, antes de um transplante de fato ocorrer, é necessário uma série de exames para saber se há a compatibilidade genética entre doador e receptor. Nesse cenário, o papel do médico é fundamental: deve-se atuar como um instrumento de conscientização e, sobretudo, fonte de informações técnicas confiáveis sobre o tema, que ainda é tabu para muitas pessoas.
Nesse artigo, iremos sanar as principais dúvidas relacionadas à influência das características genéticas no transplante de órgãos. Vamos lá?
Compatibilidade
Existem algumas “regras biológicas” para que os transplantes ocorram da melhor maneira possível. É necessário que os doadores e receptores possuam características genéticas semelhantes para que a operação seja bem-sucedida. Elencamos abaixo alguns tipos de transplantes e as obrigatoriedades genéticas de cada um:
— Transplantes de medula: Este tipo de transplante, em alguns casos, pode ser realizado sem que o doador e o receptor apresentem o mesmo tipo sanguíneo, pois as células-tronco também são transplantadas. Assim, se os tipos forem distintos, o receptor irá aos poucos trocar a tipagem dos glóbulos vermelhos para o tipo do doador. A principal compatibilidade necessária é a do sistema HLA (Human Leukocyte Antigen); que são um grupo de moléculas presentes em todas as células nucleadas do nosso corpo. Estas moléculas participam ativamente no processo de reconhecimento, pelo sistema imunológico, de células normais e aquelas que apresentam algum tipo de diferença, quer seja uma célula infectada por um vírus, uma célula cancerígena ou uma célula de um órgão transplantado. A compatibilidade HLA entre doador e receptor “engana” o sistema imunológico facilitando a aceitação do órgão transplantado e evitando o ataque e ação deletéria. Existem diversos tipos de moléculas HLA, sendo as mais importantes em um transplante o HLA-A, HLA-B, HLA-C, HLA-DR e HLA-DQ. Para saber quais HLA´s cada indivíduo apresenta, basta uma simples coleta de sangue para que seja realizada a genotipagem HLA. A maior compatibilidade de HLA acontece entre irmãos de mesmo pai e mesma mãe. Nesse caso, há 25% de chance dessa carga genética ser idêntica. Caso o receptor não tenha irmãos, a melhor opção é buscar por doadores voluntários.
— Transplantes de órgãos sólidos: Alguns exemplos de órgão sólidos, comumente transplantados, são: coração, pulmão, rim, pâncreas e fígado. Para que a operação seja efetuada, é necessário que ambos os envolvidos tenham o mesmo tipo sanguíneo (A, B, O, AB) e uma compatibilidade HLA que, nesse caso, não precisa ser 100% como ocorre nos transplantes de medula. Essa permissibilidade às moléculas HLA diferentes se deve a uma maior tolerância imunológica que certos órgão apresentam, sendo o fígado o mais tolerantes de todos, onde um transplante pode ser realizado apenas levando em consideração a compatibilidade do sistema sanguíneo ABO. Já no caso dos rins, existem diversos casos de pacientes transplantados com 75% de compatibilidade que tiveram muito sucesso. No entanto, transplantes de órgão sólidos complexos como pâncreas, coração e pulmão exigem um nível de compatibilidade alto para seu sucesso.
Rejeição pelo organismo
Apesar de todo o cuidado demandado em uma operação tão delicada, rejeições por parte do sistema imunológico do receptor podem ocorrer. Essa rejeição se dá quando esse sistema não reconhece o transplante, produzindo anticorpos para expulsar o corpo “estranho” do organismo.
Legislação para transplante de órgãos
No Brasil, existem leis para que as operações de transplante ocorram de maneira legal, assegurando, principalmente, a saúde do receptor. Caso o doador já tenha falecido, é preciso que a família autorize a doação dos órgãos. Uma informação importante é que após a morte do doador, mesmo que ele tenha registrado em documento oficial a vontade de doar órgãos após seu falecimento, a família pode recusar a vontade do ente, decidindo por não consentir o transplante. Para doadores vivos, é preciso ser maior de idade e possuir condições mentais e jurídicas de decidir pela doação. Caso o receptor não seja um familiar, é necessário autorização judicial prévia.
Transplantes no Brasil
Há uma lista criada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do Governo Federal, intitulada “Lista Única de Receptores”, que separa o cadastro por necessidade de cada receptor. Essa separação ocorre pelo tipo sanguíneo, tipo de órgão a ser transplantado, idade, entre outros dados. Para ingressar nessa lista, é necessário encaminhamento médico.
Doadores Voluntários de Medula Óssea
Para se tornar um doador voluntário de medula óssea, basta ir até o hemocentro de sua cidade para obter mais informações com uma equipe especializada e se cadastrar como doador. Após a coleta de sangue, você receberá um cartão de doador e suas informações genéticas (HLA, ABO, etc) serão armazenadas em um banco de dados. A partir daí, sempre que houver um novo paciente em busca de um doador, este banco será acessado para a busca daquele que tiver uma compatibilidade que permita o transplante.
O Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) tem mais de 4.000 milhões de doadores cadastrados, tornando-se o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo e anualmente 300 mil novos doadores são cadastrados. Ainda assim, encontrar um doador compatível é muito difícil, portanto voluntariar-se é um grande gesto que pode salvar vidas.
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