Teste RT-lamp para COVID-19 — Como funciona?
Publicado em: 25/05/2021, 11:18
Desde dezembro de 2019, o mundo tem vivido estarrecido uma escalada no número de casos e mortes decorrentes da introdução de um novo coronavírus na humanidade. O vírus referido como SARS-CoV-2, causador da doença denominada COVID-19, já provocou acima de 36 milhões de casos e mais de 1 milhão de mortes globalmente. Para o monitoramento correto da epidemia, a realização abrangente de exames diagnósticos é fundamental. Exames diagnósticos são essenciais para o manejo adequado do paciente, a identificação das rotas de transmissão, o isolamento de indivíduos infectados e as pessoas que tiveram contato com eles, tudo para minimizar a disseminação da doença. Em última análise, a realização de testes diagnósticos auxilia a tomada de decisões de ações que devem ser tomadas em termos de políticas de saúde pública.
O exame denominado RT-PCR para SARS-CoV-2 é um teste de Biologia Molecular que foi introduzido e desenvolvido desde o início da pandemia. Ele visa a detecção direta do RNA viral com base em amostras do paciente. É um teste capaz de identificar o material genético do vírus, principalmente durante a primeira semana desde o aparecimento dos sintomas. Existem diferentes protocolos de RT-PCR para SARS-CoV-2 desenvolvidos por instituições renomadas mundialmente, como o Centers for Disease Control (CDC), nos Estados Unidos, e o Instituto Pasteur na França, além de ser o teste indicado pelo Ministério da Saúde e outras instituições brasileiras de renome, como o Instituto Adolfo Lutz. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o RT-PCR como a metodologia de escolha para a detecção de SARS-CoV-2, sendo essa metodologia atualmente o padrão ouro para a detecção do coronavírus causador da COVID-19.
À medida que a pandemia evolui, diferentes modalidades de testes moleculares se desenvolvem para atender as necessidades atuais. Várias regiões e cidades do Brasil estão passando por um processo longo de flexibilização das medidas preventivas, o que vem acompanhado pelo retorno de pessoas ao trabalho. Para aumentar a segurança do retorno, estão sendo utilizados exames que tenham ampla capacidade de testagem para a presença de infecções por SARS-CoV-2 em grandes grupos de pessoas, por exemplo, empregados de empresas.
O teste RT-LAMP (Reverse transcription loop-mediated isothermal amplification) é um desses testes que promete ter boa capacidade de detecção populacional para COVID-19. Seu processamento é rápido, principalmente, por não ter a etapa de extração e de purificação do RNA do vírus. Durante o procedimento, ocorre a transcrição reversa (RT), que é o momento em que o RNA viral é transcrito reversamente em DNA. Com base nisso, regiões específicas do genoma viral são amplificadas por meio da metodologia LAMP. No RT-LAMP, a amplificação é feita de forma isotérmica, ou seja, em temperatura fixa, por cerca de uma hora, em um termociclador convencional, porque o RT-LAMP visa à detecção molecular do RNA do vírus causador da COVID-19, ele é um teste que deve ser utilizado durante a fase precoce da doença, ou seja, até o término da primeira semana desde o aparecimento dos sintomas.
O material pesquisado é a saliva, o que facilita a coleta e ajuda evitando os inconvenientes inerentes ao Swab de naso e orofaríngeo. Além disso, essa forma de coleta diminui o risco de contaminação do responsável pela coleta e o gasto com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Após a coleta, a amostra tem estabilidade de até três dias em temperatura ambiente.
Apesar da sua praticidade, o RT-LAMP ainda não deve ser considerado um teste substituto do RT-PCR. Uma das limitações é a sua menor sensibilidade quando comparado ao RT-PCR. Desenvolvedores do RT-LAMP no Brasil estão atualmente buscando aumentar sua sensibilidade de detecção, tornando o procedimento capaz de detectar o vírus mesmo quando presente em número muito baixo de cópias de RNA viral na saliva.
Apesar de a coleta de saliva ter inúmeras vantagens, ela contém substâncias que podem inibir a ação das enzimas usadas para a detecção viral, além de degradar o próprio material genético do vírus e interferir na reação de amplificação. Por esse motivo, está em andamento um processo de padronização do teste com a utilização de soluções químicas que são capazes de manter o RNA viral estável por mais tempo, não sofrendo ação de enzimas presentes na saliva. Além disso, estudos realizados por grupos internacionais desenvolvendo o RT-LAMP para a detecção de outros vírus além do coronavírus da COVID-19, tiveram que recorrer a alterações do protocolo original para aumentar a sensibilidade para um nível próximo da sensibilidade do RT-PCR. Em um estudo, foi necessária a reintrodução da etapa de extração do RNA viral para tornar a sensibilidade similar à do RT-PCR.
Devido à praticidade e ao menor tempo de execução o RT-LAMP, após a melhoria na sensibilidade dele, pode se tornar adequado para a investigação da presença de SARS-CoV-2 em grandes grupos de pessoas. Para a investigação de amostras vindas de pacientes com suspeita clínica ou apresentando vínculo epidemiológico com indivíduos diagnosticados o RT-PCR, permanece como a técnica mais recomendada. O DB Molecular tem a cada mês em média 26% de amostras positivas para SARS-CoV-2, testadas por RT-PCR, originárias de várias regiões do país. De acordo com o perfil populacional das amostras recebidas pelo DB Molecular, o exame diagnóstico recomendado permanece sendo o RT-PR.
REFERÊNCIAS
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MATÉRIA RETIRADA DA REVISTA LAES&HAES - PARA LER A VERSÃO ORIGINAL, CLIQUE AQUI!