Perda Gestacional — Conheça exame para detectar as causas de abortos de repetição
Publicado em: 29/09/2020, 17:07
O estudo genético do Produto de Concepção é de grande utilidade para determinar a causa da perda gestacional e proporcionar aconselhamento reprodutivo ao casal, isto porque entre 15-20% de todas as gestações clinicamente reconhecidas sofrem abortamento.
Anomalias cromossômicas nos fetos ocorrem em 0,7% dos nascidos vivos, 2% das gestações de mulheres com mais de 35 anos, 50% dos casos de abortos espontâneos ocorridos entre a 8ª e a 15ª semana de gestação e 60% das gestações em mulheres submetidas a tratamentos com reprodução assistida.
Uma forma de pesquisar a presença destas alterações no material abortado é fazendo o cultivo deste material e a coloração dos cromossomos pela técnica de bandeamento G, exame mais conhecido como cariótipo. Porém, em 40% destas culturas não ocorre o crescimento celular, devido a degradação do material abortado, coleta inapropriada ou demora até o início do processamento do exame. Para evitar esta degradação é fundamental que este material seja coletado imediatamente após o diagnóstico da morte embrionária ou fetal, evitando o seu armazenamento. Porém, nem sempre essas condições são possíveis na prática médica. Graças ao contínuo avanço das técnicas moleculares, temos atualmente disponíveis algumas opções de exames que podem auxiliar neste diagnóstico, como por exemplo as metodologias de hibridização in situ fluorescente (FISH), hibridização genômica comparativa (CGH-array) e sequenciamento de nova geração (NGS). Estes procedimentos possuem uma alta sensibilidade na detecção das alterações cromossômicas e conferem vantagens em relação ao cariótipo.
LIMITAÇÕES DO ESTUDO DE ABORTO MEDIANTE CARIÓTIPO CONVENCIONAL
— Pode ocorrer falha de crescimento durante etapa de cultura celular, por perda de estabilidade do material;
— Contaminação microbiana o que inviabiliza o procedimento de cultivo celular;
— Contaminação com células maternas que podem mascarar os resultados ao não permitir o crescimento e detecção das células fetais com anomalias (contaminação materna é relatada em aproximadamente 30% dos casos).
FISH PARA DETECÇÃO DE ALTERAÇÕES GENÉTICAS
A Hibridação in situ por Fluorescência (FISH) é uma técnica de citogenética molecular que utiliza sondas de DNA marcadas com fluorescência para pesquisar a presença de alterações cromossômicas específicas, permitindo a identificação de microdeleções e rearranjos complexos que não seriam visualizados pela técnica de citogenética clássica (cariótipo). Estudos relatam que as alterações mais encontradas em casos de aborto são as trissomias dos cromossomos 16, 22, 13 e 21. O FISH não exige o cultivo celular para a pesquisa destas alterações, o que garante uma maior estabilidade da amostra. Amostras com falha de crescimento celular no exame citogenético conseguem atingir em até 80% dos casos de sucesso no processamento por FISH, sendo uma alternativa em casos onde se torna inviável o processamento do cariótipo dos restos ovulares em até 48 horas após o aborto/curetagem.
Uma das limitações deste exame é a incapacidade de detectar anomalias estruturais ou mosaicismo, porém estas alterações são raras em casos de abortamento.
CGH-ARRAY
Neste exame, a expressão gênica dos restos ovulares é comparada com a expressão de um DNA controle, trazendo informações da existência de ganhos (duplicações) e/ou perdas (deleções) de segmentos cromossômicos de genes sabidamente associados com doenças genéticas e regiões associadas com perda de heterozigosidade maiores causadas por dissomia unipariental. Mais uma vez não é necessário fazer o cultivo celular, pois o material genético do aborto será purificado e isolado para posterior processamento, o que também garante uma maior estabilidade da amostra. Esta técnica tem uma resolução maior do que o cariótipo, permitindo uma identificação de alteração 2 a 3 vezes maior do que o cariótipo. Como desvantagem, esta técnica não consegue detectar casos de translocações balanceadas e poliploidia.
SEQUENCIAMENTO DE NOVA GERAÇÃO (NGS)
Este exame faz a análise através do sequenciamento dos 24 cromossomos, utilizando a tecnologia de NGS, o que permite obter resultado em 99% dos casos, sendo esta uma das grandes vantagens em relação ao cariótipo. Este exame, por não exigir o cultivo celular, garante uma maior estabilidade da amostra. Além disto, se enviado junto com o material abortado uma coleta venosa contendo o sangue da mãe, é possível analisar pelos marcadores STR se houve alguma contaminação no material fetal com células maternas. Com isto, é possível obter um resultado mais fidedigno para o casal, ao descartar resultados falsos negativos por contaminação materna (algo que ocorre em 33,3% dos casos ao se realizar a análise por cariótipo).
Para saber qual o exame mais recomendado, o DB Molecular recomenda uma consulta médica para que possa ser analisada a melhor opção para a paciente, com o devido aconselhamento médico necessário.
Texto elaborado pela equipe de Especialistas de Produtos do DB Molecular.
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