Outubro Rosa — Prevenção do Câncer de Mama
Publicado em: 20/10/2020, 12:29
O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum em todo o mundo, com sua incidência variando entre 25 a 94 mulheres a cada 100.000, dependendo do país ou região. Enquanto em alguns países a incidência vêm aumentando nos últimos 40 anos, em outros vê-se uma diminuição de novos casos desde 2005, possivelmente devido a melhores estratégias de prevenção. Ainda assim, apenas em 2018 quase 2 milhões de novos casos foram diagnosticados no mundo. Só no Brasil, a estimativa para 2020 foi de mais de 66 mil novos casos.
Apesar de a mortalidade entre pacientes com câncer de mama ser relativamente baixa (<5%), ainda é a segunda causa mais comum de morte por câncer em mulheres no mundo e a primeira no Brasil. A redução constante da taxa de mortalidade que vem sendo observada em alguns países deve-se principalmente ao diagnóstico precoce e ao acesso a melhores tratamentos. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença.
Por se tratar de uma doença heterogênea e multifatorial, seu comportamento biológico não é sempre igual e seu desenvolvimento não está relacionado a uma única causa, mas sim à associação de diversos fatores, incluindo fatores ambientais, comportamentais, hormonais, de história reprodutiva e genéticos. A presença de um ou mais desses fatores de risco não significa que a mulher necessariamente terá a doença, mas que ela se torna mais vulnerável e propensa do que aquelas que não possuem nenhum desses fatores.
Entre os principais fatores ambientais e comportamentais observam-se o sobrepeso, o sedentarismo, o consumo de bebidas alcoólicas e exposição frequente a radiações ionizantes. Já entre os fatores de risco associados à história reprodutiva e hormonal da mulher estão o uso de contraceptivos hormonais ou reposição hormonal pós-menopausa, menarca antes dos 12 anos, ausência de filhos ou primeira gravidez após os 30 anos e menopausa após os 55 anos. Os fatores familiares e hereditários incluem histórico familiar de câncer de ovário, diversos casos de câncer de mama na mesma família (principalmente em indivíduos com menos de 50 anos), histórico familiar de câncer de mama em homens, tumores bilaterais e alterações em genes supressores de tumores ou oncogenes.
RISCO DE DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
Conhecer esses fatores de risco é muito importante, uma vez que cerca de 35% dos casos de câncer de mama poderiam ser evitados apenas com prevenção primária, ou seja, com a adoção de hábitos de vida mais saudáveis, entre eles praticar atividades físicas, ter uma alimentação saudável, manter o peso corporal adequado, evitar o uso de bebidas alcoólicas, amamentar o máximo de tempo possível e evitar o uso de hormônios sintéticos como terapias de reposição hormonal e anticoncepcionais. Além disso, é importante que os médicos evitem prescrever indiscriminadamente exames de radiação ionizante. O conhecimento da predisposição genética ao desenvolvimento de tumores também é essencial para uma prevenção mais eficaz. Ainda que o câncer de mama de caráter hereditário corresponda a apenas 5% a 10% do total de casos da doença, é conhecido por sua forte tendência à herança, principalmente em casos que estão relacionados a variantes patogênicas nos genes BRCA1/BRCA2.
O risco de câncer em indivíduos portadores de mutações patogênicas nos genes BRCA1 e BRCA2 é de aproximadamente 65% e 45%, respectivamente, enquanto o risco de desenvolvimento de câncer de ovário é estimado em 39% e 11% respectivamente. Tumores relacionados a variantes patogênicas do gene BRCA1 tendem a apresentar características clínico-patológicas mais agressivas que àqueles associados a variantes patogênicas encontradas no gene BRCA2. Apesar da alta penetrância dos genes BRCA1 e BRCA2 no câncer de mama, eles não são os únicos responsáveis: evidências definitivas para a relação de pelo menos dez genes com o desenvolvimento do câncer de mama já foram encontradas. Nos últimos cinco anos, com o avanço da metodologia NGS (Next-Generation Sequencing) painéis de múltiplos genes vêm substituindo a prática de testes genéticos BRCA1 e BRCA2 em casos de suspeita de suscetibilidade hereditária ao câncer de mama. Essa estratégia aumenta a probabilidade de capturar variantes patogênicas e possivelmente patogênicas, além de fornecer dados para melhor estudo e entendimento das variantes. Comparado com o câncer de mama esporádico, o prognóstico do câncer de mama hereditário é ainda debatido. Apesar de o tratamento ser ainda similar e baseado principalmente em cirurgia, radioterapia, e quimioterapia, os resultados dos testes genéticos orientam diversas intervenções médicas. Um forte exemplo são os recentes ensaios clínicos que têm investigado o tratamento com inibidores de PARP para tumores de mama variante patogênico BRCA1/2 em estágios avançados, onde alguns deles demonstraram um aumento significativo na sobrevida livre de progressão da doença.
Dessa forma, as estratégias preventivas e de vigilância para o câncer de mama hereditário são essenciais e vêm atraindo atenção não apenas por reduzirem o desenvolvimento e a recorrência do câncer, mas também pelo potencial de melhora nos resultados dos tratamentos.
Texto elaborado pela equipe de Especialistas de Produtos do DB Molecular.
Referências
1 - Breast cancer epidemiology. Press Med 48(10): 1076-1084 (2019). doi: 10.1016/j.lpm.2019.09.022.
2 - An update on genetic risk assessment and prevention: the role of genetic testing panels in breast cancer. Exp Review of Anticancer Therapy 19: 787-801 (2019). doi: 10.1080/14737140.2019.1659730
3 - BRCA1/ BRCA2 Pathogenic Variant Breast Cancer: Treatment and Prevention Strategies. Ann Lab Med 40(2): 114-121 (2020). doi: 10.3343/alm.2020.40.2.114.
4 - https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-mama
5 - www.breastcancer.org
6 - https://www.bcrf.org/breast-cancer-statistics-and-resources