Genética em série documental da Netflix — Diagnóstico
Publicado em: 16/09/2019, 12:54
Uma nova série documental de TV conta histórias verídicas de pacientes com sintomas enigmáticos que buscam durante anos por um diagnóstico, porém, sem obter respostas. Estes pacientes são encorajados a compartilharem nas redes sociais sua jornada e todo o quadro de sinais e sintomas clínicos. O objetivo é encontrar outras pessoas no mundo com igual doença e especialistas que possam auxiliá-las. O primeiro episódio despertou curiosidade sobre as miopatias metabólicas. As miopatias são condições confinadas ao músculo, sem nenhuma anormalidade estrutural no nervo periférico. As miopatias metabólicas compreendem as síndromes nas quais a alteração metabólica foi identificada ou presumida e incluem as glicogenólises, miopatias mitocondriais, distúrbios do metabolismo lipídico e distúrbios do canal iônico.
A jovem que sofria durante anos com um histórico de intolerância severa a esportes, dores musculares fortes e prolongadas, urina escura devido a presença de bilirrubina e CPK (creatinofosfoquinase) elevada, encontrou diversas pessoas com sintomas semelhantes e duas sugestões de diagnóstico pareceram se enquadrar exatamente no conjunto de sintomas que ela apresentava: Doença de McArdle e Deficiência de CPT2. Ambas são condições determinadas geneticamente, com herança autossômica recessiva. A síndrome de McArdle caracteriza-se por intolerância ao exercício muscular com mialgia, cãibras, fadiga e fraqueza muscular. Após praticar exercício é observada elevação da creatina quinase e rabdomiólise com mioglobinúria (urina escura), podendo levar à insuficiência renal aguda. Os sintomas podem variar de moderado a severo, com início precoce dos sintomas: hipotonia, fraqueza muscular generalizada e insuficiência respiratória progressiva. Esta condição é causada por mutações no gene PYGM (11q13), levando à deficiência de fosforilase muscular. A mutação p.R50X é responsável por 40% a 50% dos alelos em populações caucasianas.
A síndrome de deficiência CPT2 é caracterizada por rabdomiólise marcada, induzida por exercício físico prolongado ou jejum, em adolescentes ou jovens adultos. A forma hepatocardiomuscular caracteriza-se por hipoglicemia com hipocetonemia induzida por jejum, miólise periférica e arritmias cardíacas paroxísticas que levam frequentemente a morte súbita nos primeiros anos de vida. O gene CPT2 (“carnitine palmitoyltransferase 2”) codifica para a enzima carnitina palmitoiltransferase 2, a qual é essencial para oxidação de ácidos graxos. Mais de 70 diferentes mutações já foram associadas à deficiência de CPT2. Algumas destas mutações ocasionam as formas mais graves da doença como a forma letal neonatal e a forma infantil hepatocardiomuscular. A mutação mais frequente no gene CPT2 é a p.S113L. Esta mutação é responsável por cerca de 60% dos casos.
O exame genético realizado, sequenciamento de nova geração, confirmou o diagnóstico de deficiência de CPT2 na paciente. A boa notícia é que esta condição pode ser controlada através de dieta alimentar especifica que irá melhorar significativamente sua qualidade de vida.