Genética e Diagnóstico Molecular: novas fronteiras no tratamento e controle do HIV
Publicado em: 07/12/2023, 12:52
A luta contra o HIV/AIDS transformou-se significativamente desde os anos 80, quando a doença era frequentemente fatal, até 2023, com o tratamento antirretroviral permitindo uma vida quase normal para os mais de um milhão de brasileiros que vivem com o vírus (1).
No Brasil, os avanços no combate ao HIV/AIDS foram marcados pelo aumento do número de pessoas diagnosticadas e tratadas, refletindo positivamente no progresso das metas da Organização das Nações Unidas (ONU) para acabar com a epidemia de AIDS até 2030 (1, 2).
Segundo o relatório do Programa Conjunto da ONU sobre HIV/AIDS, UNAIDS, em 2023, o Brasil atingiu uma das três metas recomendadas pela ONU. Os dados mostraram que 88% das pessoas que vivem com HIV estão diagnosticadas, 83% estão em tratamento retroviral e, entre elas, 95% estão com a carga viral suprimida. A meta da UNAIDS prevê que todos os indicadores alcancem os 95% (2).
Entre os fatores importantes que contribuíram diretamente com o aumento do diagnóstico e no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes estão os avanços nos conhecimentos sobre genômica e genética e o desenvolvimento de novas tecnologias de biologia molecular.
DEZEMBRO VERMELHO - mês de conscientização e da luta contra a AIDS
A Campanha Dezembro Vermelho, iniciada em 1988 e institucionalizada globalmente, tornou-se fundamental no combate ao HIV/AIDS. Ela não apenas aumenta a conscientização sobre a prevenção e tratamento do HIV, mas também luta contra o estigma e a discriminação enfrentados pelos portadores do vírus.
A campanha inicia 1º de dezembro, o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, e em 2023 o tema da campanha destaca o poder das comunidades: "O mundo pode acabar com a AIDS, com as comunidades liderando o caminho" (3).
Através do Dezembro Vermelho, a sociedade é encorajada a se engajar em diálogos abertos e educativos, promovendo a empatia e o apoio às pessoas vivendo com HIV/AIDS, enquanto se esforça para eliminar todas as formas de preconceito associadas à doença. |
O Diagnóstico Molecular É Essencial Para O Controle Do HIV
Desde a descoberta do vírus em 1983, a capacidade de sequenciar o genoma do HIV e de analisar a composição genética dos pacientes infectados permitiu desenvolver e aprimorar exames de diagnóstico molecular, como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), capazes de detectar a presença do vírus antes da soroconversão.
Até 2023, essas ferramentas biotecnológicas evoluíram para não só confirmar a infecção, mas também para monitorar a carga viral, através da PCR em tempo real, crucial para o monitoramento do tratamento e da progressão da doença, otimizando o tratamento.
Entenda a sequência de procedimentos para o diagnóstico do HIV
Novas tecnologias de diagnóstico molecular permitiram um diagnóstico mais rápido, preciso e personalizado, melhorando os cuidados e o manejo dos pacientes com HIV.
No Brasil, a incorporação dessas tecnologias no SUS tem sido fundamental para reduzir a taxa de detecção de casos de AIDS de 22,5 por 100 mil habitantes em 2011 para cerca de 16,5 em 2021, segundo o Ministério da Saúde (1). Globalmente, a UNAIDS relata que as mortes relacionadas à AIDS caíram em quase 70% desde o pico em 2004, graças ao diagnóstico e ao tratamento mais precisos e acessíveis (4).
A Genômica Em Prol Das Terapias Personalizadas
As tecnologias de genômica, principalmente o sequenciamento do DNA e RNA, e a edição gênica também estão contribuindo para o desenvolvimento de terapias personalizadas, uma área promissora na luta contra o HIV/AIDS.
As variações genéticas no HIV e do paciente podem influenciar significativamente a resistência ao vírus e a resposta ao tratamento antirretroviral.
Variações genéticas nos indivíduos podem afetar o metabolismo dos medicamentos, fazendo com que uma mesma substância não tenha o mesmo efeito em todos os pacientes, reduzindo a eficácia do medicamento, podendo ainda causar efeitos colaterais. Atualmente, existem alguns exames que analisam o DNA do paciente em busca de variações em genes que podem afetar o metabolismo dos antirretrovirais, esse tipo de análise se chama farmacogenética ou farmacogenômica e é utilizada para auxiliar na definição terapêutica desses pacientes (5).
Mais impactante que a análise genética do paciente é o conhecido da genética do vírus. O HIV é conhecido pela sua alta taxa de mutação, o que pode levar ao desenvolvimento de cepas resistentes a medicamentos específicos. O sequenciamento genético do vírus HIV permite identificar cepas resistentes a certos medicamentos, permitindo desenvolver terapias antirretrovirais adaptadas, maximizando sua efetividade e minimizando a resistência do vírus (6).
Atualmente, exames de sequenciamento para detecção da resistência viral estão disponíveis para realização, sendo inclusive cobertos pela ANS, a Agência Nacional de Saúde Suplementar.
Outra biotecnologia quem vem sendo testada para o desenvolvimento de novas terapias e que pode se tornar a cura do HIV é a edição de genes, como o CRISPR, uma técnica que permite a alteração do DNA ou RNA de um organismo para modificar suas características ou funções, e no contexto da AIDS, espera-se impedir a replicação do HIV.
Edição genética e a cura da HIV/AIDS
O medicamento, chamado EBT-101, usa a tecnologia CRISPR-Cas9 para tratar a infecção pelo HIV e erradicar o vírus do genoma das células infectadas. Está atualmente em ensaios clínicos humanos da fase I/II para avaliar sua segurança e tolerabilidade em pacientes HIV-positivos.
Este desenvolvimento se baseia em estudos anteriores com um análogo do medicamento, o EBT-001, em macacos rhesus infectados com o vírus da imunodeficiência símia (SIV), mostrando resultados promissores. O EBT-101 representa um passo significativo em direção a uma terapia que se torne a cura para o HIV (7). |
Com todos esses avanços, a genética e o diagnóstico molecular estão no centro das inovações no combate ao HIV/AIDS. A incorporação dessas técnicas no sistema de saúde amplia significativamente as possibilidades de tratamento e prevenção, marcando uma nova era na gestão da doença.
À medida que as pesquisas avançam, tanto na genética do vírus quanto do hospedeiro, e as biotecnologias se tornam mais robustas e acessíveis, amplia-se o leque de possibilidades de terapias que prometem não apenas controlar a doença, mas também se tornarem a cura. Com o potencial da edição genética e a personalização do tratamento, o futuro no combate ao HIV/AIDS é promissor, demonstrando que a ciência continua a ser a maior aliada na luta contra esta pandemia.
Conheça as metodologias de pesquisa do HIV oferecidas pelo DB.