Exames moleculares para síndrome do X Frágil
Publicado em: 24/07/2019, 19:22
A síndrome do X Frágil, causa mais comum de deficiência intelectual hereditária, ocorre devido a uma amplificação da repetição dos trinucleotídeos CGG, e sua consequente metilação, localizados na região 5´não traduzida (5’UTR) do gene FMR1. O número de repetições CGG é polimórfico, encontrando-se entre 6 a 55 na maioria da população. Entretanto, quando ocorre a amplificação e o número dos trinucleotídeos CGG ultrapassa de 200 repetições (mutação completa), o indivíduo tem seu gene FMR1 totalmente silenciado. Portanto, não ocorrerá a transcrição e, consequentemente, nenhuma formação da proteína oriunda deste gene, a FMRP. A ausência desta resulta na manifestação da síndrome do X Frágil.
Quanto à função da FMRP, há evidências de que esteja envolvida no transporte de mRNA do núcleo para o citoplasma, onde modula a tradução de seus RNAs-alvo, interagindo com componentes da via de microRNA e da maquinaria de tradução, os polirribossomos. Um destes RNAs-alvo é o mRNA dendrítico; em neurônios glutamatérgicos, a FMRP atua como supressor ou ativador da tradução destes. Quando os alelos do gene FMR1 têm expansões com um número de trincas entre alelos normais e aqueles da mutação completa, são denominados de pré-mutações (55 a 200) e caracterizam por expandirem quando transmitidos à prole, especialmente via materna, permanecendo ainda na faixa de pré-mutação ou atingindo o número de trincas de uma mutação completa. Existe ainda uma zona intermediária, de alelos potencialmente instáveis, que podem expandir-se para mutação completa em algumas gerações. O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) considera que a repetição dos alelos dessa zona intermediária contém de 41 a 60 trincas.
Homens com a síndrome de X Frágil apresentam deficiência intelectual, geralmente moderada, e sinais físicos e comportamentais característicos, tais como: face alongada, orelhas grandes e em abano, mandíbula proeminente, macroorquidia, hiperatividade, déficit de atenção e sinais que se sobrepõem aos identificados no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em mulheres, o fenótipo é variável e depende da porcentagem de células nas quais o cromossomo X defeituoso está inativo (mecanismo de inativação do cromossomo X). Homens portadores do alelo de pré-mutação podem apresentar ataxia cerebelar de início tardio e tremor de intenção. Este quadro se manifesta com menor frequência entre as mulheres portadoras de pré-mutação, sendo mais comuns que estas venham a apresentar menopausa precoce.
Recomenda-se a pesquisa para a mutação do X Frágil a todos os pacientes com deficiência intelectual sem etiologia estabelecida, meninos e meninas, o que se justifica pela sua prevalência e maior assertividade do aconselhamento genético de membros sob o risco de serem portadores da pré-mutação. Em termos de metodologia, preconiza-se a utilização das técnicas moleculares visto que o cariótipo deixou de ser recomendado há tempos. A interpretação do teste do X Frágil é complicada pela presença de diferentes sítios frágeis localizados em regiões muitos próximas no cromossomo X (FRAXA, FRAXD, FRAXE e FRAXF). O cariótipo não diferencia FRAXA e FRAXE. Adicionalmente, o teste citogenético para X Frágil apresenta pouca sensibilidade, baixa especificidade, alto risco relativo para diagnóstico falso negativo e não detecta alelos de pré-mutação. Portanto, desde 2005, os exames moleculares tornaram-se padrão ouro para diagnóstico apropriado e eficaz da síndrome do X Frágil.
Consulte o DB molecular a respeito dos testes moleculares para a síndrome do X Frágil, temos uma equipe de profissionais qualificados que poderá auxiliar você e seu médico.
Referências Bibliográficas:
FMR1-Related Disorders. Em GeneReviews. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1384/. Acessado em julho de 2019.
Steiner, C.E., Guerreiro, M.M., Marques-De-Faria, A.P., LOPESCENDES, I. Laboratorial diagnosis of fragile-X syndrome: experience in a sample of individuals with pervasive developmental disorders. Arq Neuropsiquiatr, v.63(3A), p.564-70, 2005.
Mila M.; Alvarez-Mora M.I.; Madrigal I.; Rodriguez-Revenga L. Fragile X syndrome: An overview and update of the FMR1 gene. Clin Genet. 2018 Feb;93(2):197-205. doi: 10.1111/cge.13075. Epub 2017 Oct 1.
American College of Obstetricians and Gynecologists Committee on Genetics. ACOG Committee Opinion No. 469: Carrier screening for fragile X syndrome. Obstet Gynecol. 2010 Oct;116(4):1008-10. doi: 10.1097/AOG.0b013e3181fae884.
ACOG committee opinion. Fragile X syndrome. American College of Obstetricians and Gynecologists Committee on Genetics. Int J Gynaecol Obstet. 1996 Feb;52(2):209-10.