As doenças neuromusculares e a genética
Publicado em: 08/12/2020, 11:06
As doenças neuromusculares compreendem um grupo de mais de 100 condições que afetam direta ou indiretamente a função muscular. Podendo ser adquiridas ou herdadas, essas patologias interferem no controle da função muscular através do comprometimento direto do músculo, ou de algum outro componente da unidade motora (neurônio motor, junção neuromuscular, raiz nervosa e nervo periférico). Nas crianças, a maior parte dessas condições são herdadas, sendo as doenças neuromusculares adquiridas bem mais raras do que em adultos. Entre as principais doenças neuromusculares geneticamente determinadas estão a Atrofia Muscular Espinhal (AME), a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a Distrofia Muscular de Duchenne (DMD), a Distrofia Muscular de Becker e a Doença de Charcot-Marie-Tooth (CMT).
Esse grupo de doenças é responsável por um grande conjunto de sintomas, mas entre os principais estão fraqueza muscular, atrofia muscular (perda de massa muscular), mialgias (dores musculares difusas), fasciculações musculares e perda de sensibilidade. Em algumas condições podem acontecer também o acometimento facial, dismorfismo, acometimento da motricidade ocular, e até mesmo o acometimento sistêmico. Devido ao volume e à similaridade de alguns desses sintomas, o diagnóstico diferencial é importante e baseado principalmente no histórico, exames clínicos e exames laboratoriais.
Graças aos rápidos avanços no sequenciamento do genoma, os mecanismos moleculares de várias doenças neuromusculares e permitiram o desenvolvimento de inúmeros testes genéticos. Os testes disponíveis hoje não apenas auxiliam no diagnóstico correto e no aconselhamento genético dos indivíduos acometidos por essas patologias, mas também propiciam uma melhor caracterização fenotípica e uma classificação mais objetiva, permitindo inclusive o diagnóstico fetal.
Outro avanço importante da biologia molecular relacionado às doenças neuromusculares é o reconhecimento de alvos terapêuticos e a possibilidade de novos tratamentos por meio de terapia gênica, que nos entrega a chance de substituir ou suplementar a expressão do gene disfuncional mediante a inserção de uma ou mais cópias do gene terapêutico. O primeiro medicamento baseado em terapia gênica para o tratamento de atrofia muscular espinhal (AME) tipo I já foi aprovado pela FDA, e outros ensaios clínicos estão sendo realizados com resultados promissores.
Apesar dos diversos avanços obtidos recentemente e das boas perspectivas para o futuro, para a maior parte dos casos ainda não existem tratamentos específicos que consigam o controle completo da doença. Dessa forma o tratamento ainda se baseia em prevenir a progressão da doença e tratar os sintomas, através de terapias medicamentosas, fisioterapia e cirurgias. A atuação de uma equipe multiprofissional nesses casos, formada por psicólogos, fonoaudiólogos, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, dentre outros, também é essencial pois possibilita que os pacientes tenham uma maior independência e uma melhor qualidade de vida.
Texto elaborado por Pamella Sulai, Especialista de Produtos do DB Molecular e Biomédica especialista em Oncogenética pela Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos.
Referências:
1 – Mary, P., Servais, L., and Vialle, R. (2018). Neuromuscular diseases: diagnosis and management. Orthop. Traumatol. Surg. Res. 104, S89–S95. doi: 10.1016/j.otsr.2017.04.019
2 - Scoto M, Finkel R, Mercuri E, Muntoni F. Genetic therapies for inherited neuromuscular disorders. (2018) Lancet Child Adolesc Health; 2:600–609. doi: 10.1016/S2352-4642(18)30140-8
3 - Morrison, B. (2016). Neuromuscular diseases. Semin. Neurol. 36, 409–418. doi: 10.1055/s-0036-1586263
4 – Reed, U.C. (2002) Neuromuscular disorders: J Pediatr, 78(Suppl 1):89–103. doi: 10.1590/S0021-75572002000700012