Análise molecular da Endometrite Crônica
Publicado em: 11/12/2019, 19:35
O melhor exemplo de patologia causada por uma microbiota endometrial alterada é a Endometrite Crônica (EC). EC é uma inflamação persistente do tecido endometrial causada por uma infecção da cavidade uterina provocada por patógenos bacterianos. Por ser, geralmente, assintomática e os métodos atuais de diagnóstico clássico (histologia, histeroscopia e cultura microbiana) serem insatisfatórios, a EC é pouco investigada, apesar de afetar aproximadamente 30% das mulheres inférteis, enquanto a prevalência em pacientes com Repetidas Falhas de Implantação (RIF) e Perda Gestacional Recorrente (RPL) pode chegar a 66%. O teste ALICE identifica as bactérias mais frequentes associadas à Endometrite Crônica.
Indicações para o teste ALICE
Todas as pacientes com desejo reprodutivo podem ser beneficiadas de uma análise do ambiente microbiótico que o embrião encontrará no momento da implantação. O teste ALICE é especialmente indicado para pacientes com histórico de RIF (falhas de implantação) e RPL (aborto de repetição), já que a Endometrite Crônica pode estar associada a estas complicações.
Metodologia
O teste ALICE utiliza a mais avançada tecnologia de Sequenciamento de Nova Geração (NGS) para fornecer informações sobre a microbiota do endométrio, analisando a abundância de bactérias relacionadas com a Endometrite Crônica. A tecnologia tem como base a extração de DNA bacteriano seguida de amplificação e sequenciamento do gene 16S rRNA das bactérias que causam a endometrite crônica com maior frequência. O teste ALICE pode avaliar os genes bacterianos presentes na amostra. O gene 16S, presente em todas as bactérias, apresenta 9 regiões variáveis com sequências de DNA específicas para cada espécie. Isto permite a identificação e quantificação relativa das bactérias causadoras da Endometrite Crônica.
Laudo e interpretação de resultados
Se o resultado do teste ALICE é positivo, o laudo mostrará os patógenos detectados e a porcentagem das bactérias ligadas à Endometrite Crônica. Estas bactérias são: Enterococcus spp., Enterobacteriaceae (Escherichia e Klebsiella), Streptococcus spp., Staphylococcus spp., Mycoplasma spp, e Ureaplasma spp. Além disso, informará sobre a existência de outras bactérias patógenas associadas a doenças sexualmente transmissíveis (DST), como Chlamydia e Neisseria. Dependendo do resultado do teste, será incluída uma recomendação de tratamento com os antibióticos e probióticos adequados a cada paciente.
Benefícios de detectar patógenos da EC por NGS vs métodos tradicionais
O diagnóstico atual da Endometrite Crônica é tradicionalmente baseado em histologia, histeroscopia e/ou cultura microbiana. No entanto, esses três métodos clássicos apresentam resultados inconclusivos ou falsos em 80% dos casos. Enquanto a histologia geralmente infradiagnostica a Endometrite Crônica, a histeroscopia geralmente superdiagnostica a doença. Ambos métodos não são capazes de identificar o patógeno causante, razão pela qual o tratamento não é específico. O cultivo microbiano é capaz de isolar o patógeno causante, no entanto entre 20% e 60% das bactérias, dependendo da sua localização, não podem ser cultivadas ou não se avaliam de forma habitual no âmbito clínico. A microbiologia molecular obtém resultados equivalentes aos obtidos através da combinação dos 3 métodos: histologia, histeroscopia e cultura microbiana.
Referências
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